Episódio III - Pe(r)didos

O garoto acorda está coberto de ataduras, ainda está um pouco tonto, sua visão embaçada é atrapalhada por tantas gases, sua respiração esta forte ele está confuso e não entende tudo o que esta acontecendo, ele sente um gosto amargo na boca, parece que lhe medicaram, ele se lembra bem o que aconteceu, de alguma forma começou um incêndio no ginásio da sua escola, ele passou horas soterrado, havia desmaiado em meio ao fogo. Quando sua visão fica melhor, ele nota que há uma moça o olhando, é sua vizinha, ela o olha diretamente nos olhos, uma menina de pele clara e cabelos pretos, ela parecia triste, seus olhos de uma cor tão bela como poucas vezes ela tinha visto, mas que por serem tão claros notava facilmente que ela havia chorado o sorriso que ele gostava de ver em seu rosto não se encontrava mais lá em sua boca.
- Jean - disse a vizinha - você sabe o que aconteceu com você?
- Eu me lembro de estar no ginásio da escola, algo pegou fogo, tudo estava queimando...
- Pois é, Jean você desmaiou no fogo, todo seu corpo foi queimado, você foi totalmente desfigurado, e passou dias em coma...

- COMO ASSIM?! - gritou Jean que correu para se olhar no espelho do banheiro do hospital, ao chegar à frente do espelho, seu corpo esta todo coberto de ataduras, ele se desespera, começa a tentar tirar as ataduras a todo custo, com a pressa ele acaba se enrolando cada vez mais, enquanto tenta tirar as ataduras ele fala, e grita, chorando:
- MEU ROSTO!!! O que aconteceu comigo?
Quando ele acaba de tirar todas as ataduras, ele nota que seu rosto esta como sempre esteve, com pequenos arranhões e machucados, ele se vira para Fran, sua vizinha, e nota que ela esta gargalhando da sua cara, ele pega um vidro de shampoo e joga direto na cara da Fran, que consegue desviar, os dois ficam rindo da situação.
Mas fora dali, os médicos não conseguem entender como um rapaz sobreviveu a tanto tempo de exposição ao fogo.
Em outro local, Otávio sai da escola, sem saber que estava sendo observado, ele anda calmamente para a saída, para ele é só mais um dia normal, algo que com certeza não é, ele entra no ônibus, senta-se e fica olhando pela janela as ruas, voava longe em seus pensamentos, só notou o que acontecia quando mulheres no ônibus começaram a gritar, o ônibus estava trancado direto na via do trem, o trem dirigia-se naquela direção, as pessoas gritavam, a porta do ônibus não abria, Otávio sentiu medo... Não queria morrer ainda, ele via o pavor no rosto das pessoas, ele pediu com todas as suas forças que não morresse, ele não queria que agora fosse a sua hora, ele pediu com todas as suas forças para que não morresse...
O público pede incessantemente pelo começo do show, Alice afina seu baixo, pela primeira vez em muito tempo Matheus se atrasa para um show, isso não era comum de acontecer pelo menos não com shows, Alice já estava impaciente e muito preocupada, ela sabe que Matheus leva muito a sério a sua música, ela pede para Sarisa ligar para o Matheus.
- Não é comum ele se atrasar - disse Alice preocupada.
Nesse momento chega Matheus correndo com a guitarra na mão.
- Math! O que houve?! - disse Alice que correu ao ver o amigo.
- Nada, não! Vamos para o show? - disse Matheus não querendo falar sobre tudo que havia ocorrido.
- Math, eu queria falar com você sobre... - Alice é interrompida pelo público que acaba de ser avisado que o show da The Kira Justice já vai começar.
- Alice, nossos fãs nos esperam , acho que eles são mais importantes né? Depois a gente conversa. - disse Matheus colocando a mão no ombro de Alice e dando uma piscadinha esperta pra ela, Alice engole em seco, realmente o show já estava atrasado era hora de ir ao palco.
No show tudo corria bem, até que em certo ponto enquanto tocavam "What's Up People" e o público fazia uma roda punk, Matheus começou a se sentir mal, os instrumentos começam a falhar, as caixas de som começam a soltar ruídos, o público começa a se irritar, Matheus também fica nervoso, ele olha pro responsável para o som que parece não entender.
- Como pode tudo estar dando errado? – pensa Matheus.
Quando ele vai tocar a próxima nota, ele nota que bem aonde estão seus dedos as cordas do violão derreteram, ele quis cantar mas o microfone pifou, tudo começou a rodar, e Matheus desmaiou.
No hospital Alice cuida de seu amigo e ao ver ele despertar decide que é hora de eles conversarem.
- O que houve no show, Alice? Porque deu tudo errado? – questionou Matheus.
- Eu esperava que você me respondesse isso, Math – respondeu Alice com um olhar franco.
- Sei lá, tudo aquilo simplesmente,... aconteceu...
- Tem certeza? Eu te vi aquele dia, na morte daquela moça.
Matheus se assusta, não queria voltar a pensar naquilo, ao olhar para o rosto de sua amiga, ele começa a chorar.
- Acho que me tornei um monstro... – desabafou Matheus.
- Se você é um monstro... – disse Alice olhando para a própria mão -... Então o que eu sou? – sua mão começa a soltar pequenos choques.
Matheus se ajeita na cama do hospital ao ver Alice soltando choques que nem ele fez naquela moça.
- Alice... v-você é como eu... – disse Matheus.
- Não exatamente – disse Alice ainda admirando a luz que saia de sua mão – Isso, é choque, as cordas do seu violão são de aço, não teria como rebentá-las...
- Então, o que eu sou? – disse Matheus desanimado esperando que a amiga tivesse a reposta que ele tanto ansiava, mas Alice olha para ele sem conseguir dar uma resposta, os amigos se abraçam, sem conseguir compreender o que o futuro reserva para os dois, ou o que acontece a eles nesse momento, Matheus pensa na conversa com Otávio “faz um favor para mim tá? Cuida de mim, ok Math?” ele sabia, precisava encontrar Otávio novamente para resolver aquilo, algo importante estava por vir, ele abraça mais forte sua amiga, uma lágrima escorre do seu olho, e a lâmpada do quarto estoura.
CONTINUA...